sábado, 7 de março de 2015

Eu vou, eu voo.

Foto: Ilnanda Pacheco


Se eu fiquei, foi por espontaneidade. Acredite, eu sou um pássaro livre, e se me achego a um ninho por muito tempo, é porque ele me faz bem.  
Cheguei como de costume, pensando no momento - no conforto do momento, no descanso do momento, na calma do momento - e nunca imaginei que quisesse ficar. Nunca imaginei que esse ninho, encaixado num galho qualquer, pudesse ser diferente dos outros, pudesse me fazer querer ficar. 
E fiquei, olha só. Gostei dos insetos que apareciam nas redondezas; gostei do jeito com que as folhas da árvore projetavam sombra sobre mim; gostei de como tudo era precisamente posicionado para o meu bem; gostei, e era como se tudo fosse calculado para mim, como se eu mesmo tivesse feito o ninho - o ninho dos meus sonhos. 
O melhor de tudo era que ainda que eu voasse para longe, ainda que eu demorasse a voltar, no meu coração eu guardava a certeza de que ele estaria lá, me esperando. Quando voltava, continuava maravilhoso, e se voltasse mais gordinho, ele se moldava e se adaptava para o meu bem. Sim, estava lá, me esperando, não havia nenhum outro pássaro em meu lugar. 
O tempo passou, sim, e talvez você não acredite que há mais de dois anos eu pousava no mesmo ninho, mas a realidade é essa. Experimentei sim quatro ou cinco ninhos pelo caminho, mas ele nunca foram tão bons quanto o meu (olha só, chamando-o de meu), e eu acabava voltando para onde eu me sentia... eu.  
E olhando daqui, não consigo imaginar em qual ponto da história eu parei de importar com ele. Pode ter sido esse meu espírito que fez minhas idas serem mais longas e frequentes, e meus momentos ao lado dele cada vez menores. Posso jurar que se aquele ninho tivesse sentimentos, estaria triste comigo agora. 
Sendo ou não sendo, na última vez que o deixei, senti dentro do meu pequeno coração de passarinho que era a última vez. Não faz muito tempo, sabe, mas quando se é pássaro, a gente sabe.  
Eu vou (ou voo) sem reclamações. Em alguns momentos houve um desconforto ou outro, mas qual é o ninho que não tem? Foi um ninho maravilhoso, foram momentos maravilhosos ao lado dele, mas como diria uma canção que uma vez ouvi um humano cantarolar, "se eu ficasse aqui, as coisas seriam iguais, e esse pássaro você não pode mudar". 
É isso. 
Eu voo, sem mágoas. 

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