quinta-feira, 26 de março de 2015

A noite escura do poeta.




Eu calo, soluço, sussurro procurando por alguém.
Chamam-me de dramático, e que eu seja mesmo um poeta louco na madrugada fria, chorando e rimando minhas dores, mas que nunca me faltem versos. Que eu seja um romântico lunático, sem ter os pés no chão, que eu seja tudo isso que você grita pra mim.
E naquela noite, quando entre risos me ofendeu, minha querida, faltou-me toda poesia. Agora estou aqui, longe daquela que a vida biologicamente me encarregou de cuidar, aquela que cuidava de mim.
Sou um ator que sorri para a alvorada, um marinheiro ao encontro de piratas, um capitão da guarda vadiando pelas ruas escuras. Sou, sou mesmo um canalha, um fingido, infiel, herege, imoral, sou tudo o que você me disse. Sou, ainda que não seja verdade, sou tudo o que você quiser, tudo que seus lábios entre risos proclamaram, mas fique aqui.
Fico sem saber de nada, porque não recebi resposta da última carta que te enviei, e sua mãe me encontrou na rua e não falou comigo.
Fico sendo um infiel que sempre foi devoto seu, um herege que não compreendeu seus ensinamentos, um pecador que nem pela graça de Deus obteve seu perdão.


Sou, fico, calo, soluço, sussurro tudo aquilo que você disse. 

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