Eu galgo pelas linhas do papel como se fossem degraus pelos quais eu deva me arriscar. Eu contemplo o azul da caneta criando sentimentos novos como se fossem grandes oceanos em que eu deva mergulhar.
Mergulho no papel, me torno o papel, então algum poeta apaixonado escreve em mim suas dores, e vejo minha vida se transformar. E conforme vou crescendo e me tornando um homem feito, a história vai passando para a linha de baixo, e posso contemplar a verdade de que para ser grande é preciso descer.
As linhas são labirintos, o papel A4 é o céu a me esperar, minha falta de coordenação motora é a liberdade que torna meus garranchos uma grafia perfeita, o azul que me olha são os rios que de meus olhos jorram, e a assinatura que deixo no final é para garantir que nenhum outro tome para si meus pesares.
No drama, sou ator da trama, de um papel em que eu mergulho, um papel em que escrevo.
Viro a página, e mais escadas a me esperar. Viro a página, como eles tanto me pedem, mas a história é sempre a mesma.
Mergulho em papéis, eu me torno o papel principal.
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