terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Comprimida



Por  Ana Beatriz Novaes


Teu ar condicionado ao tempo prendia-te numa rotina miserável: trabalhar, ganhar dinheiro, fazer comida, levar as crianças pro colégio, pegar o ônibus lotado, lotar-se de compromissos, lotar-se de qualquer coisa, de alguma coisa.


E comprimida dentro do ônibus, tomava comprimido anti-stress, que te prendia numa calma fria e amarga que tanto tentas, em vão, esconder de tuas crianças.
Com o cabelo preso no alto para não ter trabalho com ele, tu te prendeste ao chão, evitando sempre o alto. Pra que, mulher?
Na comida, sabor não tinha. Era tua comida, mulher, ensinada pela mãe que há muito se fora, então por que achas tão ruim?
Eu, que de longe te observo, vejo uma mulher mais feminina, mais mulher, que faminta está dentro de ti, mulher, com saudade de vestidos e querendo dançar mambo. Tem uma mulher querendo ser mulher, longe do ar-condicionado, do ônibus lotado, do comprimido ingerido, do sapato de salto. Tem uma mulher que você nem conhece, mulher.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

A vida que encontro na Lagoa das Bateias .




Por Ana Beatriz Novaes





Era voltar cansada do trabalho e passar pela rua de sua casa sem nem mesmo notar: ia descendo direto a Avenida Alagoas em direção à Lagoa das Bateias ver a magia acontecer.
As pessoas que estavam lá com suas roupas fitness, se exercitando com o cachorro ou passeando com a bicicleta não entendiam o que fazia parada a menina de saia rodada, bolsa de lado, sorrindo para o céu.
E a menina, que havia tido um dia tenso, contemplava agora o pôr-do-sol, cujos raios beijavam as nuvens ao seu redor, deixando-as multi-coloridas. Eram gigantescas nuvens que cercavam o lugar, deixando no centro um céu completamente limpo, de um azul que ia clareando gradativamente ao chegar perto do Sol, que gradativamente ia tirando de dentro da menina toda a tensão que havia, fazendo a menina - que era tão mulher ultimamente - voltar a ser a menina que era: linda, feliz, leve, serena.

sábado, 17 de janeiro de 2015

Poesia além do papel

Por Ana Beatriz Novaes

Bom, todos sabemos que o intuito da criação desse blog foi, além de divulgar o meu trabalho, levar a poesia às pessoas.

Antes de mais nada, vamos compreender primeiro o  que é poesia. Você pode me dizer que poesia é um texto divido entre versos e estrofes e que possui rimas, e eu não irei discordar, irei apenas... Acrescentar.
Vejamos o que diz o dicionário:
Segundo o Dicionário On Line de Português, poesia é a Arte de fazer versos.
Cada gênero poético.
Obra em verso, poema.
Característica do que toca, eleva, encanta. Forma especial de linguagem, mais dirigida à imaginação e à sensibilidade do que ao raciocínio. Em vez de comunicar principalmente informações, a poesia transmite sobretudo emoções. 

Ou seja, todos concordam que a poesia transmite mais emoções do que informações e, consequentemente, brinca com as palavras, formando o que chamamos de rimas. Acho que isso basta, porque aliás, como venho mostrado nos meus últimos textos, é possível "poetizar" em prosas.
Mas hoje quero tratar de uma poesia que está além do papel, a música. Embora a música atual esteja indo de mal a pior, com letras nem um pouco poéticas, ainda dá pra peneirar algumas coisas. 
Resolvi então preparar um playlist de músicas que são pura poesia, para que não só a poesia, como também toda a arte, continue sendo transmitida!

1. Caetano Veloso, Sozinho.


2. Los Hermanos, Último Romance.




3. Adoniram Barbosa, Saudosa Maloca.


4. Chitãozinho & Xororó, Rancho Fundo.



5. Palavrantiga, Branca.




6. Geraldo Azevedo, Dia Branco.



7. Oswaldo Montenegro, A Lista. 


8. Chico Buarque, João e Maria.


9. A Banda Mais Bonita da Cidade, A Pé.


10. Zeca Baleiro, Telegrama. 


Como podemos ver, a poesia na música brasileira ultrapassa as fronteiras dos gêneros musicais!
Espero que gostem!

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Flor Morena

Por Ana Beatriz Novaes


Foto: Yago Borges




Bem que eu queria ser uma flor, que fosse bela, serena, inerte. Queria afogar-me na certeza do incerto, no pensar em ser irracional e poder deleitar-me e desmanchar-me com um simples vento. Ser tulipa, margarida, lavanda, tendo meus sentimentos expressos em aromas inexplicáveis. Defender-me-iam os meus espinhos, e vestir-me-ia de pétalas suaves. Ser flor, e nos conflitos entre fazer para ser, ser apenas o que posso fazer, fazer apenas o que demonstro ser.
E nos enlaces das suas mãos, seria violeta, violenta, espinhosa, bem-me-quer, te querer bem. Ser sonho, imaculada, ser guiada pelas danças do vento, pela força do seu sopro, e despetalar-me, perder-me em você.
Flor do mato, de espinheiro, de ramalhete. Flor delicada, flor assombrosa, flor amada, flor que é presente, que é futuro. Flor que é capim, flor que é carpie diem.
E sendo inerte às mazelas, quiçá às bonanças, poderia ser destruída por crianças, ser amada por moças e  desprezada por aqueles que não sabem amar. Mas meu nome ainda seria flor, eu ainda seria um presente, que talvez no futuro arrancasse um riso seu, meu bem, e por Deus, isso me valeria uma pétala inteira.















Fotos: Ilnanda DiasYago Borges e arquivo pessoal.
Ver também: Blog da Chay.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Encontre-me

Por Ana Beatriz Novaes



Foto: Arquivo pessoal

Você pode me encontrar nas estradas por onde eu viajei, nas pessoas que de longe eu vigiei, porque eu já entrei muito numa van pra trocar de cidade, sem saber do amanhã.
Você pode me encontrar em um short jeans rasgado pra usar no verão, em botinas quentes de inverno, em roupas de transição. Pode ser que eu esteja em uma canção que ouvi, uma canção que fizeram pra mim, uma canção que esteve em ti. Você pode me encontrar nos meus laços, nas minhas saias, nos meus abraços, nas minhas praias.
Eu abraço e deixo um pouco de mim no enlaço dos braços, porque passo o que sinto no corpo a corpo.
Você pode me encontrar nas pessoas que me amaram, me odiaram, me mataram, mas têm um pouco de mim dentro delas: pode ser uma recordação, um sorriso, uma discussão, mas são pessoas que também estão em mim.
E certamente me encontrará nos meus versos, perceberá que eu sou na verdade o inverso do que demonstro ser, porque todo dia eu passo um pouco de mim para uma poesia, todo dia eu me encontro comigo mesma no papel.
Estou na folha, na brisa, na flor, na caneta. Sou o gato, o rato, quem for o caçador. Eu estou em meus medos, meu sossego, na leveza dum cafuné, num afago, onde eu te afogo ao meu lado.


Se você me procurar, meu bem, poderá achar um pouco de mim por todo canto, pode conhecer cada um dos meus desencantos, mas aposto que será ainda mais encantador de você vier aqui pra eu te mostrar.

sábado, 10 de janeiro de 2015

Mulher



Modelo: Heloísa Costa


Senhora



Como anda sua casa, bela senhora,
Que em lugares abandonados mora?
Como vai a sua mente,
Que sempre foge do consciente?
Talvez, senhora
Se fosse embora
Me acharia
Talvez até sua mãe Maria
Pudesse levar
Mas, minha senhora, ninguém nunca vai saber
O que em sua mente passou
Ninguém nunca vai conhecer
Os caminhos por onde andou
A solução não é afastar-se, não é sumir
Não se cale, não tente fugir
Eu não irei ao seu lado aonde você for
Ficarei juntando minhas peças
Com saudade do seu amor
Eu não vou tocar na sua banda
Não me interessa por onde anda
Seu sacro temor
Não se cale, senhora.
Como anda sua casa?

Veja o ensaio completo clicando aqui.


sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

O meu lado mais azul

Por Ana Beatriz Novaes



Foto: Yago Borges

Crescendo em meio a contrastes 
Fui descobrindo em mim um lado
Bem mais simples, bem mais relaxado
Que se reflete em minhas artes
Estava presa no escritório
Sentindo muita dor nas costas
Fez-se seu amor mais notório
Quando vieram-me suas respostas
Eu vejo um mundo mais leve
Vejo sua cor em todo lugar
Contagia como bola de neve
Com alegria vou me entregar
Eu, que era só monotonia
Saio agora de azul por aí
Essa cor, que eu tanto escondia
Transforma o mundo que eu subverti.

Copyright ©

domingo, 4 de janeiro de 2015

Luz do dia

Por Ana Beatriz Novaes

Eu não me espantaria se todos passassem por mim e não me vissem, não me notassem, porque talvez um dia meu corpo irá se decompor em raios solares, e minha existência se resumirá em luz. 
O que é a luz além da pureza do existir? Se bem que há muito  eu não só existo, como também vivo: vivo vendo por vezes repetidas minha vida se transformar, mudar, iluminar, se tornar luz do dia, luz lunar, luz que passa despercebida por essa dimensão, que passa e disfarça que passou.
Eu sou luz, mas não brilho, sou espelho, sou refletor. Eu sou luz, mas longe da Luz, sou escuridão. 

Foto: Yago Borges

Eu sou Musa, sou Fada, a Dama do Lago,  que enxerga castelos onde você não pode ver, que guarda Lancelot como se fosse meu, e talvez até seja, embora já tenha morrido. Eu sou luz, ao ponto de prender Merlim, derrubar o muro de Berlim, derrotar Stálin e Trotsky, criar um anarquismo em mim.
Eu sou luz, que passa e disfarça, que enxerga muita graça nesse mundo de maldição. Eu sou luz!
 Copyright ©



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