Eu preciso de um canto pra descansar. Algum lugar silencioso, longe do barulho dos carros dessa BR 116, do ruído do ar-condicionado, longe dos gritos das pessoas nervosas que nada entendem e brigam sem antes conversar. Eu preciso de um lugar calmo, tranquilo, desse jeito que eu sei que sou, longe do estresse cotidiano, do estresse hormonal.
Para
que eu possa me deitar sem preocupações em qualquer lugar, para que
minha mente descanse verdadeiramente no colo daquele me criou. Eu
preciso do som da chuva, mas sei lá, caso não chova por essas
bandas, eu preciso de um banho de mangueira. Preciso do riso perdido
dos meus irmãos e meus primos, da coragem para subir em árvores,
apostar corridas e tomar sorvete. Sim, cê precisa ter muita coragem
para largar tudo e tomar um sorvete com o mundo caminhando desse
jeito.
Eu
preciso de colo, carinho, compreensão. Algum canto, algum colo para
chorar sem medo. E para rir, sim, rir dos meus erros, dessa minha
vontade insaciável de querer cuidar de todo mundo, de querer
resolver tudo sozinha. Trabalho em equipe, não é isso que eles
pregam?
Então,
preciso trabalhar com alguém na construção de uma casa na árvore.
Tá, ok, aquelas árvores não possuem uma estrutura legal para uma
casa lá em cima, mas sei lá, bora junto fazer alguma coisa. Bora
parar de ficar colocando empecilho onde não tem, de inventar
desculpas para não ir àquela reunião de família, bora tentar
outra vez. Eu tô cansada, mas meu descanso não é o ócio.
Eu
tô cansada, e louvados sejam cada membro do meu corpo que dói. Eu
tô cansada de tanto trabalho, tanto estudo, tanta responsabilidade,
mas poxa, que bom que eu os tenho. Que bom que tenho ótimos
professores que não dão moleza, que bom que eu tenho um ótimo
emprego que tá sempre me ensinando coisas novas. Eu tô cansada, eu
quero férias, e que bom que há motivo para descansar.
Eu
tô cansada, sobretudo, dessa saudade esmagadora em meu peito. É
para saciá-la que eu tanto estudo, tanto trabalho, tanto me
preocupo. Cansada dessa distância, e olha só, não é um cansaço
do qual eu possa me orgulhar.
Mas
louvadas sejam as nossas dificuldades. Louvada seja a nossa vida, que
nos suga até a última gota da alma para que possamos entender que
grande mesmo é ser pequeno, cheio mesmo é estar vazio de si mesmo.
Feliz mesmo é aquele que chora, aquele que sabe o quão pobre é.