sexta-feira, 21 de agosto de 2015

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Nós tínhamos o costume de nos abraçarmos em cada canto dessa nossa alta, fria e convexa cidade, mas hoje nós não nos abraçamos mais – nós não estamos mais na mesma cidade. 

Eu, que tanto fui andarilha pelas diversas cidades desse país, que tanto disse tchau para amigos, professores e vizinhos, posso hoje dizer com toda convicção: é pior pra quem fica. É pior pra quem fica e passa por todas as praças onde risos e olhares foram trocados, por todas as ruas que outrora assistiram o amor e toda sua pureza, por todos os cômodos da minha casa que já foram palco de pirraças, sonhos e beijos. 

É pior pra quem fica, mas não sei dizer se é pior quando a saudade é recíproca. Porque a reciprocidade faz arder no peito um chama de esperança que o oposto dela não faria. Uma chama de esperança que aquece o coração quando chega mais um dia 23 e você não está aqui, mas que também queima o peito, arde querendo te encontrar com seus negros caracóis ao vento andando pelas ruas da nossa cidade com um violão nas costas. 

É uma chama que conforta, mas também machuca. Cuida de mim nas noites frias, mas também me faz lembrar que não há nenhum cobertor nessa cidade capaz de me aquecer como você o fez, então ela me queima, me pede para não te esquecer, não me deixa te esquecer. 

Nós tínhamos o costume de sumirmos um da vida do outro quando perdíamos as esperanças em nós mesmos, mas agora que estamos distantes, queremos a todo tempo voltar, nem que seja para dizer adeus, nem que seja para nos afastarmos outra vez. 

E o coração, que antes que acelerava com um toque das mãos, com os olhares, com os abraços no meio da rua, hoje se contentou em palpitar quando chega mais uma mensagem, porque já se conformou e parou de te procurar pelas ruas da nossa cidade, parou de querer te chamar pra andar comigo por aí num domingo em que eu não tenho nada para fazer, ou numa quinta-feira em que eu preciso estudar mas prefiro ficar ao seu lado. 

E assim vou vivendo, sem a poesia que você era pra mim. Sem a poesia, que hoje se tornou prosa, mas não deixa de rimar. Vou vivendo, ora com saudade e esperança, ora com medo e desistência, sabendo sempre que os ventos nunca erram a direção.

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