domingo, 28 de junho de 2015

As filhas de Anísio


Você me disse para não usar nada que não fosse apenas nosso, e pude chegar a conclusão que ainda que eu quisesse, não conseguiria. Fui de Raul a Caeteno, de Geraldo a Humberto, e não há nada do que eles digam que seja capaz de definir isso que somos nós.  

As filhas de Niba, que são irmãs, mas que mais ainda, são amigas. As duas irmãs, Flávia e Ana Beatriz (no bom dia meio-dia), uma pela outra, uma com a outra, uma na outra.  


Somos nós, poxa, apenas nós na nossa constante agonia e sede por revolução, somos nós com planos se traçam a sós, com sonhos revolucionários tidos como tolice. Pensei a respeito de tudo que já vivemos, em tudo que somos, e cá entre nós, nem eu poderia escrever algo a atura. Sinto muito. Sinto muito se você espera de mim algo tocante, belo e poético: se nem Raul nem Humberto conseguiram, por que eu o faria? 

E aqui estou eu, com a dor de cabeça da minha embriaguez, com as mãos nervosas tremendo, a garganta seca por gritar: é amor, o que mais precisa ser dito? 


É amor, minha querida, todas as vezes que escapamos do mundo lá fora e nos trancamos no quarto para juntos chorarmos, para sofrermos a dor que se torna nossa, mesmo quando é só minha.  É amor, não sou o único a dizer isso. É amor quando nossos corpos se aquecem mesmo sob um coberto frio e fétido de umidade em um apertada cama de solteiro, e ali, no meio do silêncio entre uma respiração e outra, nossas mãos se encontram pra dizer "é amor". Eu sei que dizem. 


É amor não só por sangue que corre espontaneamente, mas por sangue que estanca de vontade própria. É amor nas palavras não ditas quando dizemos adeus, nas risadas bobas a caminho da roça ao som de Renato, ao som de Wellington, ao som de nossas risadas que se tornam a mais bela melodia. É amor na certeza de que ainda que as coisas mudem, ele não mudará. 


Aquele amor que está nas fugas adolescentes e na responsabilidade adulta. Amor que nem sempre sabe ponderar, nem sempre sabe a hora certa de agir, mas age por amor, e é isso que basta. Isso que basta nos meus momentos de solidão quase diária, isso que basta para me dar um tapa na cara e mostrar que eu não  só nessa parada. É o basta para me fazer ter esperança de que sim, há alguém que irá me receber quando eu precisar de colo mesmo quando estiver com raiva de mim. Há alguém para me guiar mutuamente nessa loucura que é a vida, para me guiar e buscar comigo alcançar um equilíbrio: não queremos ser sóbrias demais, nem bêbadas demais. 

Porque somos uma a racionalidade que a outra precisa, somos a lágrima enxuta no momento certo, as crianças que brincam no balanço em um passado muito distante,  os adultos que se lembram da doce e intensa juventude. Somos a dança estranha com gente mais estranha ainda, em um mundo que fazemos com que todas as coisas sejam normais. Somos filhas distintas que resolveram se juntar apesar das divergências e distinções. Somos o amor feito como escolha, e não como acaso.
"Amor que eu pensei, mas todo pensar é torto...". Somos o nosso amor em meio aos nossos erros e acertos, mas que já é um grande amor apenas por tentar.



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