quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Bicho do Mato


Havia um quê de mistério divino no vento fresco que balançava saias e folhas na mata brava do sertão naquele dia. Havia todo um poema envolto nos raios solares infiltrados por baixo das copas das árvores às quatro da tarde. Havia um quê de poema misteriosamente divino naquelas pessoas, amantes da natureza, que decidiram largar os afazeres entediantes de domingo para irem se  picar numa roça qualquer. 




Talvez fossem as flores amarelas entapetando o chão primaveril que fizesse tudo parecer mais mágico e belo aos olhos, talvez fosse o carcará cruzando os ares com sua imponência, talvez fossem os patos criados num poleiro ou até mesmo a pitangueira que não frutificou esse mês – quem poderá saber? – mas gente bicho do mato não precisa de muita coisa para se encantar com a terra a que pertence. 



Havia ali uma moça. Tipicamente sertaneja, tipicamente baiana, andava sozinha por entre as árvores que roçavam sua cintura, ficando cada vez mais morena debaixo do sol. Estava no auge da sua juventude, mas não estava curtindo seu domingo a tarde como os demais jovens da sua idade geralmente faziam. Era todos os dias beijada pelo sol nordestino, mas gostava mais ainda quando esses beijos eram recebidos no meio do mato, entre os paus-brasis plantados rente a cerca por seu pai; gostava mesmo era desses beijos no meio de uma ventania, no alto de um morrinho, observando o voo dos pássaros que, assim como ela, amavam a liberdade. 



E ali estava o verdadeiro bicho-do-mato do sertão, do cerrado, das áreas de transição nordestinas. Apesar de ser tão indomável quanto seus cabelos, deixava-se amansar por aqueles a quem amava, por aqueles a quem pertencia seu coração. Ali estava o bicho-do-mato: não eram as lagartas de fogo, não eram as cobras enfiadas no matagal, não eram os felinos agressivo querendo proteção – era uma moça qualquer da cidade, trazendo no peito sentimentos quaisquer de sua idade, mas que ao invés de somente existir, vivia intensamente cada segundo que o Divino lhe concedia cultivando amor no coração de outros bichos-do-mato, correndo pela grama sob o sol primaveril, sendo um inofensivo bicho-do-mato. 



Ali estava o bicho-do-mato, com sua família de catingueiros: uma velha a molhar alegremente a horta, um homem a ocupar-se afazeres roceiros, uma mulher a irritar-se com os mosquitos, uma outra moça bicho-do-mato a subir nas árvores que a sua irmã não queria. Eram bichos-do-mato, quem poderá negar? Eram bichos-do-mato, amantes da terra, amantes do sertão, amantes de toda cor que o sol trazia pra'quelas bandas. Eram amantes do mato.


 Amores meus, fiz este texto assim que voltei do pedacinho de terra que nossa família tem, ou melhor dizendo, da roça. Acho que já deu pra perceber pelas coisas que escrevo, pelas fotos aqui postadas, pelo Instagran o quão amante da natureza eu sou, né? Pois é, e aqui tá um pouco pra vocês do que eu vejo, do que eu sinto, do que eu sou, e eu espero que tenham entendido o que eu quis transmitir!

Muito obrigada por tudo, queridos!
Abraços, fiquem com Deus, fiquem na paz!






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