quinta-feira, 30 de julho de 2015

É por isso que eu escrevo #4



Acho que vocês, caros leitores, já estão de saco cheio dessa imagem, mas na moral, é linda demais!
Enfim, o texto de hoje, que deveria ser o texto de ontem, foi escrito por nada mais nada menos do que minha irmã! Sim!, minha querida irmãzinha, musa inspiradora de tantos versos meus, veio hoje dar as caras!
Faço minhas também as belas palavras dela, porque parte disso tudo vivemos juntas. Boa leitura!

"Lembro-me hoje, com formidável saudade, das tardes em que sem preocupações íamos todos ao nosso "pedacinho de céu", alcunha essa, dada a um pequeno pedaço de terra, infinito na vertical, que com muito amor e dedicação meu pai comprou e pôs sua cara e essência... Íamos despretensiosos, pretendendo - parece contraditório, mas é isso mesmo - apenas amar, amar de fato, como apenas quando cercados pela natureza, em sua infinita energia pacificadora, somos capazes de amar... Ele (meu pai) com sua paixão pela cor e som, levava muitas tintas e CDs para nos fazer ouvir e colorir durante toda a tarde, debaixo dum pé de manga, que mais tem seu cheiro que das frutas dali...  

Passávamos a tarde inteira com nossas roupas velhas, cabelo bagunçado e mãos sujas, sujas de pinturas que ele nos ensinava, tão rupestres quanto suas mãos. E ali, ficávamos refazendo os passos que o pincel do pai dava, pois víamos aqueles seus traços como os mais talentosos do mundo, até chegar a hora de vir e, apesar de ser muito bom estar lá, voltar não era ruim, pois uma coisa era certa: eu poderia contemplá-lo aqui também, sentado com sua barba grisalha em seu escritório cheio de livros, que eu pretendia ler todos, vendo ali a fonte de ser tão admirável quanto ele.  

E ali ficava , ouvindo o som de sua vitrola. E, ao vê-lo com aquela feição séria, que se desfazia em amor cada vez que eu lhe roubava a atenção do trabalho, para falar qualquer coisa que nem sabia foi que descobri o amor, assim mesmo, mascarado de admiração.  

O tempo passou, não como devia, mas mais veloz e impiedoso. Roubou-lhe muitas coisas, inclusive o próprio tempo, mas não lhe tirou o que a vida lhe deu de mais valioso: sua sabedoria, sua capacidade de amar e viver; ser paciente, mesmo depois de longo e árduo dia de trabalho; sorrir e amar!  

O tempo é assim mesmo, rouba-nos o tempo. Mas é ele também, em sua majestosidade, que nos ensina a amar o que deve ser amado. Hoje, essa formidável saudade que guardo não é do meu pai, que, embora cercado de contratempos, sempre se faz presente, mas é do tempo, do tempo para passar sem se preocupar com o tempo; do tempo para desejar sem se importar com o tempo; do tempo para mais uma vez, debaixo dum pé de manga que viveu tantas histórias ali paradinho mesmo, aprender a amar, sujos de corpo, mas limpos d'alma, cercados de cor, que meu velho pacientemente escolhia. Pois com esse tempo, aprendi que amor está em processo, amor se renova , e aprendemos a amar é com o tempo. 

Saudade, sinto saudade, e hoje é com ela que escrevo, é por ela que escrevo!"

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Layout: Fernando Sousa| Tecnologia do Blogger | All Rights Reserved ©