terça-feira, 7 de julho de 2015

Pra que falar de amor?


Por que vocês escrevem tanto sobre amor?, perguntou-me certa vez um aluno de Literatura Brasileira do quinto semestre do curso de Letras, e eu me lembro que na época pedi-lhe um pouco de tempo para responder. Falar de amor é sério o bastante para fazer qualquer poeta querer tomar cuidado – explicar o porquê de tanto falarmos é tão sério quanto. 

Cheguei em casa no fim daquela tarde cansado como de costume, e logo minha mulher percebeu que algo maior do que o típico cansaço de um professor me afligia, contudo ao em vez de buscar naquela que tanto amo uma resposta conivente, rumei para a varanda no alto da minha casa e de lá observei os raios de sol do lusco-fusco dando o seu costumeiro show, ladeados pelas nuvens multicoloridas. Escolher morar em um condomínio quase rural fora uma das melhores escolhas da minha vida. 

Sentindo os músculos relaxarem por conta da fresca brisa a me balançar, pude refletir melhor a respeito do que, antes de mais nada, é um poeta. Arrisquei fazer essa breve análise, mesmo sabendo que poetas são as pessoas que menos gostam de ser generalizadas, porque se tornou necessário fazê-la. 

Um poeta precisa ser, acima de tudo, um filósofo. É, um filósofo. Não precisa ser alguém que desenvolve teorias e estabelece questionamentos científicos válidos – não, o poeta não precisa de nada disso. É apenas um filósofo que vê mais beleza ou menos beleza na vida do as pessoas geralmente veem (é importante fazer uma ressalva para o fato de que um poeta nunca estará no meio termo), e consegue, além de refletir sobre isso, transmitir tudo que enxerga para o papel, e não necessariamente o que sente. 

Acho engraçado pensarem que poetas são românticos e amantes em sua totalidade. Poetas conseguem ser os maiores cafajestes que você possa conhecer – ou não – então é sempre manter os olhos abertos. 

Mas por que falar de amor? Por que enxergar sempre no mundo o amor e suas manifestações? A falta de amor, a dor da saudade, o medo de amar? Por que criar personagens fictícios – tal como eu sou – apenas para falar de um assunto que é tratado há tanto tempo a ponto de se tornar banal? 

O filósofo questiona, e questões que não nos trazem respostas imediatas e concretas são as que tem mantido o mundo em constante movimento. Veja o caso de Deus, por exemplo. Grande parte do avanços científicos que nós alcançamos vieram do desejo do homem de não se conformar com um deus como resposta pra tudo, ouso dizer eu, de poder até mesmo refutá-lo. 

Que me perdoem os cientistas incrédulos, mas nenhum desses avanços foi capaz de mostrar ao mundo a inexistência do divino, uma vez que o plano espiritual não é palpável para que se possa comprovar. Se o ramo da ciência (que não é científico coisa nenhuma) que tenta explicar o espiritual é tido como pseudociência, por que o que tenta comprovar sua inexistência não seria? 

Voltando ao amor, as muitas e muitas definições de poetas, filósofos, antropólogos e psicólogos não puderam realmente nos mostrar o que ele é. Acontece que o amor não são palavras, mas até isso questionamos. 

Amor, tido como verbo, são ações demonstradas no dia a dia, no entendimento, na conexão entre pessoas, mas acima de tudo, é uma escolha. Sim, doeu em mim também ter que admitir isso, enquanto poeta romântico que sou, mas vinte e três anos de casado me mostraram que os primeiros olhares magnéticos que troquei com minha esposa nos últimos anos da faculdade de nada ajudaram para enfrentar os atritos que temos dentro de casa. Nada romântico, nada poético dizer, mas amar nem sempre tem essa face. A não ser, é claro, que alguém consiga dizer com palavras bonitas “eu detesto suas neuras com arrumação e a sua mania de querer controlar toda a situação”. Até rimou, mas não, não é romântico. 

Amor é o que me faz permanecer ao lado dela todos os dias apesar dos defeitos, ou permanecer ao lado dela apesar dos defeitos é o que é o amor, e isso não cabe em palavras. 

“Professor, se não cabe em palavras, por que vocês insistem tanto em colocá-lo no papel?” PORQUE SOMOS HUMANOS! Somos apaixonados pelo mistério e pelos questionamentos. Somos errôneos e erramos até mesmo na hora de amar, mas sempre tentamos e aprendemos com o próprio amor, e é isso que nos move. Nos move para amar e para escrever, e acredite, muitas vezes querem dizer a mesma coisa. 

Uma carta de amor não transmite o amor pelas palavras nela contidas e sim pelo simples fato de estar sendo escrita, e o mesmo se aplica aos nossos versos, que são uma falha tentativa de explicar nossos erros e acertos com o amor por meio de palavras, porque afinal, no amor, toda tentativa é válida. 

“Falamos de amor porque falamos”, eu disse ao meu aluno na aula seguinte, que não esperava que eu fosse respondê-lo, “assim como amamos porque amamos”. 

Não foi uma resposta muito boa, tenho que admitir, mas no amor, toda tentativa é válida.   

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